Por: Monique Jagersbacher
Em ocasião da morte do vate paraibano Augusto dos Anjos, Olavo Bilac – conhecido como o príncipe dos poetas – disse que a poesia brasileira não perdia grande coisa.
Em ocasião da morte do vate paraibano Augusto dos Anjos, Olavo Bilac – conhecido como o príncipe dos poetas – disse que a poesia brasileira não perdia grande coisa.
Ledo engano! A poesia brasileira perdia, prematuramente, um de seus maiores expoentes poéticos. Mas este poeta, injustiçado pela crítica, à sua época, foi imortalizado pela sua poesia tão singular e original que não foi possível enquadrá-lo em nenhuma escola literária, tornando-se pré-modernista apenas por questões didáticas.
“Literariamente, parece que Cesário Verde não existe” desabafou o poeta Cesário Verde que foi ignorado pelas revistas e pela crítica literária, pois a sua originalidade e o desapego ao lirismo formal causavam estranheza ao gosto português. Cesário teve um único volume publicado, postumamente, por um amigo. O fato é que Cesário promoveu uma incrível renovação na poesia portuguesa, influenciando mais tarde, poetas como Fernando Pessoa.
A poesia No Meio do Caminho do ilustríssimo Carlos Drummond de Andrade foi recebida com grande estranheza pela crítica da época, em ocasião do seu lançamento, em 1928. Drummond teve coragem para publicar o seu poema e enfrentar a crítica quando ainda não tinha alcançado o merecido reconhecimento. Críticas estas que renderam a publicação do livro Uma Pedra no Meio do Caminho – Biografia de um poema, organizada pelo próprio Drummond em comemoração aos 40 anos de publicação do poema. Certamente, a poesia sem rima de Drummond, deve ter sido uma pedra no meio do caminho de muitos críticos.
O que estes poetas têm em comum além de possuírem reconhecimento e terem enfrentado a crítica?
Todos eles romperam com as tradições poéticas vigentes em suas épocas. Transgrediram regras e se libertaram da rigidez formal das escolas literárias.
Foram imortalizados pela arte, cada um a seu modo, ao seu estilo, com sua singularidade.
E hoje, na atualidade, depois de transpostas essas barreiras, será que vamos continuar trilhando o caminho da incompreensão? Julgando a arte do outro como inferior segundo as nossas próprias regras ou comparando-os com os grandes poetas póstumos que foram também vitimizados, em suas épocas, por visões tão míopes?
Embora aplicadas em outro contexto, ouso expor aqui palavras do próprio Drummond: “A poesia é incomunicável”.
Comentário de Valdeck Almeida de Jesus
Cara Monique Jagersbacher…
Sua reflexão sobre o valor dos textos poéticos, e, por extensão, da arte em si, é pertinente. Primeiro, não somente por virem ancoradas em ações de grandes nomes da nossa literatura e, segundo, pois é coerente. Ou seja, mesmo que não fosse Drummond ou outro grande poeta no assunto em questão, o que fica explícito, aí, no seu texto, é que a escrita, a produção de um artista da palavra, não pode e nem deve receber carimbo ou rótulo de “bom”, “ruim”, “razoável” ou algo que o valha. Arte é arte. Artista expressa o que sente e, assim, não importa a forma, a embalagem. Se a baliza fosse o domínio da língua formal, muitos de nós jamais poderiamos ser classificados como artistas, inclusive renomados e consagrados escritores de todos os tempos pois, falhas gramaticais sempre vão existir, pois a língua é viva e dinâmica, independe, por muitas vezes, do falante.
Classificar é próprio de um sistema que pretende dar um valor a um produto (nesse caso, a escrita, a poesia, a crônica, o romance etc), a fim de torná-lo “competitivo”, vendável, comercializável. O que dizer, então, de tantos artistas que não registram suas criações, como pichadores, repentistas, contadores de causos, cordelistas, artistas de rua, palhaços etc? Não poderiam ser chamados de artistas? Afinal, como medir se um desenho na parede de um muro é arte ou não? Como classificar a atuação de um ator de rua?
Deixemos os críticos criticarem e vamos fazendo nossa arte, acreditando nos nossos sonhos. Eles, os críticos, estão sentados em berço esplêndido e nunca vão sentir o frio na barriga ao declamar um poema ou enfrentar uma plateia.
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