Televisão, política, homossexualidade, sociedade, entre outros assuntos, com Jean Wyllys. Quem pensa que esse cara é somente um ex-BBB que assumiu a homossexualidade na TV, está por fora! Além de ser jornalista, Jean é professor acadêmico, escritor, e está candidato a deputado federal pelo PSOL. Com um discurso politizado esse baiano arretado foi escolhido para o primeiro Porradão de 20 ao VIVO!
01 - Quem é Jean? Origem, estudos, caminhos a seguir…
Falar de mim mesmo é difícil, mas entendo que pedir para falar de mim é pedir pra falar de meu caráter, de como ele foi forjado; das minhas escolhas; trabalhos e daquilo que dá sentido à minha vida. Então vamos lá. Vou começar com um episódio que me marcou muito ao muito ainda ouvir seu eco em minha alma. Certa vez, aos seis anos de idade, eu fui comprar pão na venda e, chegando lá, na hora de fazer o pedido, eu fiz a concordância de nominal correta, "Por favor, eu quero seis pães". Havia alguns caras, homens feitos, bebendo na venda. Um deles, ouvindo a minha frase, disse, num tom de ameaça: "você é viado ou estudado?". Todos os outros riram. Era a primeira vez em que eu ouvi a palavra "viado". Não sabia o que ela significava, mas sabia pelo tom de ameaça do cara e pelo riso de escárnio dos outros, que eu não deveria ser aquilo.
A injúria contra os homossexuais – esse continuum que vai das primeiras ofensas verbais à violência real - provoca quase sempre estragos irreparáveis à subjetividade ou à alma de uma pessoa. Agora, Celso, imagine essa infância gay – sim é preciso falar de uma infância gay – combinada à pobreza extrema em que vivíamos na periferia de alagoinhas, em que sequer água e sanitário havia nas casas de aluguel em que morávamos?
Não bastasse a miséria, e talvez mesmo por conta dela, meu pai enfrentava problemas com alcoolismo e, por isso, não parava nos subempregos que, vez em quando, permita-lhe trazer comida pra casa. Minha mãe, semianalfabeta, trabalhava como lavadeira para não nos deixar morrer de fome. E, para ajudá-la nesta tarefa nobre, eu fui, aos dez anos de idade, para o mercado de trabalho informal. Comecei vendendo algodão-doce e folhinhas do sagrado coração de Jesus pelas ruas da cidade.
Trabalhava num turno e estudava em outro. Aos sábados e domingos, eu e meus irmãos nos dedicávamos às atividades do centro comunitário da baixa da candeia. Diante das necessidades, minha mãe queria que a gente abandonasse a escola para se dedicar mais ao trabalho: conseguir uma vaga numa oficina mecânica qualquer ou de cobrador de ônibus. Para ela, era importante que fôssemos honestos e respeitássemos o que era dos outros, mas para minha mãe não era tão importante que a gente estudasse, pois, na cabeça dela, dedicação a estudos era coisa de gente rica.
Acontece que eu sempre gostei de aprender e de ler. Sempre gostei da escola porque era lá que eu aprendia e lia. E para escola eu ia mesmo nos dias em que não havia absolutamente nada para comer lá em casa. E aos sábados e domingos passava horas na biblioteca da casa paroquial lendo livros. Livros que me deram valores humanistas e a preocupação com o outro, típicos do cristianismo – sim, porque se, por um lado, o cristianismo fundamentalista e sua ameaça ao estado laico e de direitos nos apavoram, por outro, é inegável que foi o cristianismo que nos trouxe essa idéia de que o que torna um homem virtuoso são os seus atos, ou seja, para o cristianismo, um ser humano é virtuoso quando age em favor do bem comum; livros que me levaram ao movimento pastoral da igreja católica – eu me engajei na pastoral da juventude estudantil e na pastoral da juventude do meio popular - e ao trabalho nas comunidades eclesiais de base. A família de meu pai sempre foi ligada ao candomblé, mas eu só vim me aproximar e me aprofundar nesta religião depois dos 20 anos, já homem feito.
Leitura e livros que me fizeram ver a televisão com outros olhos (televisão que só foi chegar à minha casa quando eu tinha 11 anos; antes minha mãe e eu assistíamos às novelas da janela do único vizinho que tinha TV no bairro). Livros que me fizeram escapar dos destinos imperfeitos aos quais ainda estão condenados os meninos e meninas dos bolsões de pobreza deste país.
Formei-me em informática no ensino médio, numa instituição de excelência voltada para alunos de escolas públicas do nordeste que estivessem acima da média 8,0: A Fundação José Carvalho; entrei no mercado formal de trabalho bem remunerado; nesse mesmo ano prestei vestibular para jornalismo na UFBA, onde me formei; trabalhei anos como jornalista e, depois de concluído o mestrado, passei a me dedicar mais ao ensino superior – sou professor de teoria da comunicação e de cultura brasileira. Deixei os anos de miséria para trás (não que eles ainda não me assombrem); fiz a tal mobilidade social sem contar com a ajuda financeira dos meus pais – que, ao contrário, dependiam de mim - nem com apadrinhamentos de qualquer tipo! Eu que poderia ter morrido de fome ou por falta de serviço público de saúde decente; que poderia ter sucumbido a uma bala de revólver da polícia ou dos bandidos ou à homofobia que reina nas comunidades. Transformei a minha vida e a de minha família para melhor. E poderia me contentar com isto e só olhar para frente!
Mas, e os que ficaram para trás? Aqueles que, abandonados pelo estado à própria sorte, não tiveram a força de vontade de resistir e sobreviver à miséria? E aqueles que ficariam para trás, que estariam fadados a morrer vitimas das guerras de quadrilhas ou nas mãos da polícia, como aconteceu a muitos dos meus colegas da baixa da candeia?
E aquelas crianças homossexuais que não sobreviveriam ao ambiente de hostilidade homofóbica? Como é possível viver contente se seus semelhantes ainda são vítimas das injustiças? A psicanálise nos ensina que todas as nossas escolhas são frutos das experiências de prazer e de desprazer na infância. A julgar pelas minhas escolhas, ela está certa. Como jornalista, em vez de me dedicar às frivolidades dos cadernos de cultura, dediquei-me ao jornalismo cidadão, ganhando três prêmios da ABI (Associação Baiana de Imprensa) e uma menção honrosa da ANDI (Agência Nacional dos Direitos da Infância) por matérias dedicadas à promoção dos direitos humanos, principalmente os direitos das crianças e dos adolescentes. E não me bastava publicar matérias! Eu queria colaborar com os movimentos sociais e a sociedade civil organizada, por isso, fui parceiro do GAPA (Grupo de Apoio e Prevenção à AIDS), do GGB (Grupo Gay da Bahia) e da organização de auxílio fraterno, onde desenvolvi um programa de educação pela mídia e para mídia, voltado para crianças em situação de risco social. Como professor da Universidade Jorge Amado, criei uma pós-graduação latu sensu em jornalismo e direitos humanos. E como pesquisador, tendo sido alguém que veio das camadas da população que só têm acesso à cultura de massa – seja por falta de recursos para consumir bens simbólicos como teatro, concertos de música, discos importados e literatura, seja pela falta de políticas públicas que lhes dêem acesso à alta cultura – interessei-me em investigar os significados que a cultura de massa produz no imaginário popular e em investigar as razões de a mesma ser alvo dos preconceitos de certa elite intelectual deste país – elite que embora reserve, para si, a chamada alta cultura, como forma de justificar seus outros privilégios, menospreza, diminui ou criminaliza a cultura dos pobres (o funk está aí para provar isso). E foi esse interesse que me levou ao BBB. Pode haver gente egoísta no mundo, mas eu não faço parte dela, Celso, de verdade! Ter uma vida confortável, relativamente segura e trabalhar, por meio da educação superior e do jornalismo, pelos direitos humanos, não me impediram de reconhecer que isto ainda é pouco; que eu posso fazer muito mais para melhorar a vida dos outros e que este muito mais passa necessariamente pela política. Daí, eu ter decidido me filiar ao PSOL – partido cujo programa mais se aproxima de meus ideais – e ter aceitado o convite de Heloísa Helena a me candidatar a deputado federal e a travar, caso eleito, uma luta que certamente será árdua em nome da justiça social, dos direitos humanos, da ética pública e das liberdades individuais.
02. O que você fez com aquele dinheiro todo que você ganhou no BBB?
Acho que isso não interessa a muita gente, mas, para não te de deixar sem resposta, eu posso te dizer que ajudei a muita gente e a mim mesmo em necessidades imediatas. Guardei um pouco para os momentos difíceis. E continuei vivendo de meu trabalho.
03. Jean Wyllys ficou conhecido por tornar pública sua homossexualidade. Quando se descobriu gay e quais os momentos mais críticos dessa aceitação?
Como a gente vive numa sociedade heteronormativa, ou seja, numa sociedade cuja maioria heterossexual definiu a heterossexualidade como norma, o processo de aceitação da homossexualidade por parte de um homossexual nunca está completo. Mesmo quando a gente faz a passagem da vergonha para o orgulho – o que alguns chamam de saída do armário ou de "se assumir" – mesmo assim, a vida coloca a gente em momentos críticos em que a gente tem de optar entre se aceitar e expressar orgulho ou se calar. A melhor expressão para dar conta desse processo de aceitação que nunca está completo é a inglesa "Comming out of the closet"; a gente nunca sai do armário por completo... Quanto ao momento exato da "descoberta", não dá para precisá-lo. Uma criança que é diferente por não se encaixar nos papéis de gênero definidos pela sociedade percebe sua própria diferença quando todos em volta jogam essa diferença em sua cara ou querem fazê-la se encaixar na norma. Veja o caso que te contei do cara que me chamou de "viado" quando eu tinha apenas seis anos! Todo esse constrangimento vai fazendo com que um gay cresça internalizando a homofobia social, de modo que ele não se aceite em sua diferença e busque se enquadrar no que é considerado normal. É algo parecido com o racismo internalizado de muitos negros: criados numa sociedade em que o poder e os modelos de beleza e sucesso são brancos, muitos negros passam a rejeitar sua negritude e a querer se tornar brancos. Posso dizer que minha família reagiu bem à minha homossexualidade se eu levar em conta o fato de que nasci numa família do interior da Bahia, portanto, com os valores morais e os preconceitos típicos de uma família nordestina, interiorana, católica e pobre. Minha mãe e meus irmãos não deixaram de me amar quando assumi minha orientação sexual, mas, é importante dizer que eu assumi quando já morava fora e era arrimo de família. Talvez se eu assumisse quando ainda morava na casa de minha mãe e não a ajudasse financeiramente nem a meus irmãos, a história fosse outra. Mas não posso viver de hipóteses. A verdade é que, quando assumi minha orientação no reality show, minha família, amigos, colegas e alunos já sabiam e me respeitavam e amavam mesmo assim. Antes de me tornar famoso em todo Brasil, eu já era uma referência, em minha família, de determinação, bom-senso, inteligência, discrição e sucesso. A fama não alterou a forma de minha família me ver. A gente não é deslumbrado.
04 - - Hoje estamos vivendo em uma sociedade mais "democrática" quanto às relações homoafetivas, no Brasil e no mundo? Porque isso está acontecendo?
Celso, as mudanças que existem entre ser gay há dez anos e ser gay hoje são frutos mais da luta dos grupos de homossexuais organizados e de gays que dão "a cara a tapa" e menos de uma mudança na sociedade. Se a sociedade mudou, mudou porque foi pressionada pelas ações desses grupos e pessoas. Ela não muda gratuitamente: ao contrário, seu movimento é sempre de se conservar como é e está. Há dez anos eu já era gay assumido e, logo, posso dizer que as conquistas, de lá para cá, não são muitas: em se tratando de política, há o crescimento das paradas do orgulho gay - com todos os efeitos colaterais que esse crescimento traz - e os projetos de lei que institui o casamento civil entre gays e criminaliza a homofobia; em se tratando de representação na mídia, há os personagens de novela e o fato de eu ter aparecido num reality show, para todo Brasil, como um homem homossexual inteligente e ético. É inegável que o movimento gay - aproveitando-se dos esforços do capitalismo para nos constituir como nicho de mercado (e o capitalismo só apresenta o mercado como solução para os conflitos sociais) - conquistou novas representações de homossexuais na tevê. Essas novas representações trouxeram mais visibilidade para a comunidade LGBT e, assim, levou as audiências a se acostumarem mais com a existência dela. Contudo, é igualmente inegável que as representações de homossexuais mais toleradas pelas audiências são aquelas em que gays, lésbicas e transexuais aparecem como objetos de piadas e situações cômicas ou aquelas em que eles aparecem travestidos de heterossexuais, ou seja, sem nada que evidencie sua diferença. Nessas representações, com raríssimas exceções, os homossexuais aparecem como seres assexuados – não desejam, não transam, não amam. Sendo assim, as audiências toleram que alguém diga que é gay, mas, não quer vê-lo sendo gay. Daí não poder se afirmar categoricamente que vivemos numa sociedade mais tolerante e receptiva às relações homoafetivas. A prova disso é que o projeto de lei que institui o casamento civil entre homossexuais se encontra parado no Congresso Nacional desde 1995.
05 - Mas não acontecem paradas gays em quase todo Brasil? Isso não é prova de aceitação?
Isso é prova de que o movimento se organizou e conquistou seu espaço contra tudo e todos. As paradas são eventos que celebram o orgulho de ser LGBT, ainda que em alguns lugares, como resultado de negociação política para que sejam liberadas pelas autoridades locais, elas aconteçam com o nome de "parada da diversidade". As paradas são uma grande conquista política. Elas conferem existência a uma cultura que não conta com muitos meios de expressão pública. Elas não resolvem o problema da discriminação cotidiana de que são vítimas os gays e lésbicas e, muitas vezes, as paradas até servem para reforçar essa discriminação na medida em que a mídia heterossexual só dá destaque para seus excessos. Porém, como já disse, elas são meios de expressão pública da cultura LGBT – e isso é muito se pensarmos que há um esforço da mídia heterossexual e dos políticos conservadores em silenciar a cultura LGBT, em deixá-la invisível. Por isso, é equivocado aquele organizador de parada que prepara o evento pensando nas famílias que vão assistir ao desfile, acompanhadas de suas crianças e bichos de estimação. As paradas têm de ser feitas por e para as lésbicas, transexuais e gays. Os heterossexuais são apenas platéia.
06. - O que você acha que vai acontecer no futuro, em uma sociedade que aceita relações homoafetivas, "casamento gay", adoção de crianças por casais gays?Como o Brasil, por exemplo, pode se adaptar a isso?
Não faço futurologia. Mas digo que, se a sociedade brasileira estender a cidadania plena aos homossexuais e/ou se ela reparar os danos sociais e psíquicos que causou aos afrodescendentes, ela será uma sociedade de fato mais democrática e mais justa. O Brasil não só pode como deve construir essa sociedade. Foi pensando em participar dessa construção que aceitei vir candidadato.
07 - Outro dia vi em um programa de televisão que um travesti em São Paulo pode ganhar entre 4.500 e 6.000 reais e que as relações são em muitos dos casos são com homens, casados e que adotam a posição passiva na hora da transa. O que você acha disso?
Não sei se esses ganhos correspondem à realidade. Com certeza não correspondem à realidade da maioria das travestis e transexuais que vivem da prostituição. Quando eu era aluno da graduação, acompanhei o antropólogo Don Kuhlick em sua etnografia dos espaços de prostituição de travestis em Salvador. Convivi e conversei com muitas delas em reuniões do GGB. Depois, como repórter, fiz muitas matérias explorando o universo das travestis e a prostituição viril. Logo, posso te afirmar que a vida de uma travesti que vive só da prostituição não é fácil. A maioria se prostitui porque este é o último e único meio de sobrevivência que lhe resta. Se elas não podem ter vida diurna (você costuma ver travestis durante o dia, circulando normalmente pelas ruas?) imagine trabalhar regularmente em lojas, escolas ou empresas! Na noite, elas estão expostas a – e são alvo de - toda sorte de violência. Como não contam com proteção legal – ao contrário, costumam ser humilhadas e violentadas nas delegacias e postos de polícia aos quais recorrem – elas se protegem por meio da violência também, roubando ou ferindo seus clientes quando estes, depois que gozam, querem sair do programa sem pagar. É verdade que a maioria dos clientes das travestis é casada e quer ser passiva na relação, quer dar o cu, mas isso não significa que eles sejam homossexuais ou gay. O ânus é a uma zona erógena. Todo homem sente prazer quando é tocado no ânus. Mas ele não admite isso nem explora essa sua zona erógena com namoradas e esposas porque existe a mentalidade de que a posição passiva é uma posição menor porque feminina; a mentalidade de que quem se submete a ocupar essa posição passiva, feminina, não é homem, não é digno de ser homem, é tão inferior quanto a mulher, é viado. Ora, por conta dessa mentalidade, muitos homens deixam de explorar sua zona erógena com namoradas e esposas e vão atrás de travestis. No fundo, o que eles estão buscando não é outro homem, mas uma mulher com um pau que explore o prazer que ele sente no ânus.
08. Vamos falar mais de BBB. O que você acha que o Big Brother Brasil representa hoje para a população brasileira? Acha que é "só um jogo" como dizem ou este show carrega mais coisas por determinar às vezes a opinião do público sobre algumas questões, como a homofobia na edição passada?
Quando os realities shows começaram a fazer sucesso, eu, como comunicólogo, interessei-me por eles, ao ponto de abandonar a minha pesquisa sobre narrativas de presidiários do Carandiru – que fora objeto de estudos no mestrado e seria no doutorado – para montar um projeto de pesquisa sobre este novo gênero de entretenimento televisivo que estava fazendo a cabeça dos brasileiros. Eu queria ser um dos primeiros acadêmicos de comunicação no Brasil a estudar o BBB. E foi este querer que me levou a me inscrever no programa. Se eu pedisse à Globo para entrar no programa apenas para estudá-lo, ela me negaria; por isso, fiz a inscrição como mais um candidato. A telenovela um dia já foi desprezada pelos intelectuais e hoje é objeto de estudos multidisciplinares por ter se tornado um fórum de debates sobre as questões nacionais e formadora de mentalidades. O mesmo vai acontecer com os realities shows. E eu queria ser um dos primeiros a investigar quais os impactos deles no imaginário do povo brasileiro, afinal, a gente não pode considerar um mero equívoco quando pessoas não sabem em quem votaram nas últimas eleições, mas gastam seu tempo e dinheiro para votar num participante de reality show. Depois que eu participei do BBB, passei a gostar ainda mais desse tipo de entretenimento televisivo. Os realities shows vieram para ficar e causaram enorme impacto na programação televisiva no mundo inteiro. Ter sido selecionado para participar do programa me permitiu fazer uma etnografia e, assim, compreender melhor a produção de um programa que é campeão de audiência e, por isso, mobiliza e coloniza o imaginário de milhões de brasileiros. A última edição, por exemplo, serviu para mostrar à maioria dos brasileiros o que é a homofobia e suas múltiplas faces e manifestações. Tenho orgulho de ter conseguido fazer isso bem e, sem que eu tivesse planejado, de ter me tornado um marco na história do programa – e, talvez, na história da tevê brasileira – e de ter dado mais combustível à política homossexual e me tornado um escritor popular. O que a imprensa de celebridade não compreende é que não é o BBB que faz os participantes; são os participantes – suas histórias de vida e conflitos – que fazem o BBB. Os realities shows devem seu sucesso menos aos seus diretores e equipes de produção e mais, muito mais, aos seus participantes. Sem as histórias e vida dos participantes, sem suas qualidades e defeitos, os realities shows não seriam nada.
09- Você acha que ganhou o BBB porque era gay? Se não foi por isso, porque foi?
A escolha do vencedor, por parte do público, depende da conjugação de um contexto interno - ou seja, da trama dos conflitos que surgem da convivência entre os participantes – com um contexto externo, que corresponde à realidade sócio-cultural que o país está vivendo e dos fatos que a compõem. É na interação entre esses dois contextos que emerge a identificação ou identificações da maioria com aquele participante que ela faz vencedor. Então por que eu venci? Primeiro porque a trama nascida dos conflitos em que me envolvi na casa evocava o poderoso mito de Davi e Golias: o gigante da casa exortou os outros participantes a me eliminar a qualquer custo, mesmo eu sendo o elo mais fraco da corrente; a maioria não tolera a representação da injustiça. Segundo porque o fato de eu ter assumido publicamente minha homossexualidade fez com que a maioria me identificasse com um homem corajoso e honesto, mesmo ela reprovando intimamente a homossexualidade. Terceiro porque todas as minhas outras qualidades ficaram maiores que a minha orientação (era como se as pessoas desculpassem o fato de eu ser gay por ser, ao mesmo tempo, honesto, íntegro, bom e inteligente); porque eu apenas disse que era gay, não vivi minha sexualidade. Quarto porque o país atravessava uma crise ética na política; o povo demandava por modelos de ética e decência. Quinto porque, além disso, eu possibilitava outras identificações: alagoinhense, baiano, nordestino, povo de santo, professor universitário e intelectual com uma história de vida comum à maioria dos brasileiros.
10. O que ganhar o BBB te trouxe de bom? Isso te agregou fama real, ou hoje, você ainda vive daquela fama momentânea?
Entre as razões que me levaram a participar do programa, ganhar o prêmio em dinheiro era a que menos contava; virar "celebridade" não estava entre elas, definitivamente. Além de conhecer um reality show por dentro – interesse de um intelectual que pesquisa comunicação de massa e dá aulas para alunos dos cursos superiores de Comunicação Social – eu queria abrir minha carreira de escritor para o resto do país. Claro que a participação por si só não garantiria isso. Participar do BBB só faz de você um participante do BBB. O que faz de você algo mais que um participante é a formação, o trabalho e o talento. E eu estava (e estou) certo de meu talento, de minha formação e de meu trabalho, por isso, decidi participar. E, por isso, soube dizer não aos apelos da mídia para a exposição sem propósitos. Não gosto da fama em si, a fama pela fama. Tenho pavor dela e me recuso a alimentá-la: não faço presença vip, só vou a festas e shows que eu possa pagar e só aceito convites se os ventos forem do meu interesse e só dou entrevista e participo de programa de tv se eu tiver o que dizer ou se o tema tem a ver comigo. Como todo profissional, eu quero sucesso. E sucesso não é nada mais que fazer o que você gosta, viver disso e um número maior de pessoas prestar atenção. Nesse sentido, todos querem sucesso: o médico, o pintor, o artesão, o escritor, a cabeleireira, o MV Bill e você também, Celso.
11. Como você avalia a vida acadêmica de antes e a de agora? O que você espera nesse âmbito para o futuro?
Eu nunca me imaginei longe da vida acadêmica. Porque eu sempre tive um pé dentro dela e outro fora mesmo antes de ser "famoso". Fiz pesquisa e dei aulas na universidade ao mesmo tempo em que atuava como jornalista engajado e como escritor. Esse trânsito é salutar. Eu sou um intelectual orgânico naquele sentido descrito por Gramsci. Depois de ficar famoso num programa de massa, eu até esperava enfrentar mais preconceito por parte da academia carioca, mas isso não aconteceu. Um ou outro professor torce o nariz por inveja ou rancor, mas a maioria me recebeu de braços abertos e houve até instituições me disputando quando decidi deixar temporariamente a tevê para voltar à academia.
12. Li uma opinião sua sobre a vitória do Dourado no último BBB, você dizia que as pessoas queriam estabelecer uma ordem moral fascista. Você não acha que ao contrário de querer ordem o público na verdade quis brincar com jogo do BBB, sem se deixar ser conduzido pelo jogo? Pergunto isso por causa da febre no Twitter. As pessoas passaram a defender o Dourado como campeão mais como um deboche do que como um apoio a quem ele era de fato?
Não queria voltar a esse assunto, para mim, ele está esgotado. Mas discordo de você quanto às razões que levaram as pessoas a defender o Marcelo Dourado. Contrariando Descartes, Freud nos ensinou que a gente existe pelo que não pensa, ou seja, pelo que está inconsciente em nós. Havia muito ódio inconsciente – e, em alguns casos, mais que consciente – no deboche com que a defesa ao vencedor e o ataque aos homossexuais eram feitos no Twitter e demais espaços da internet. Seguindo sua argumentação, eu poderia dizer, então, que os sites, blogs e perfis que pregam ódio a negros e a nordestinos na internet não passam de deboche de quem quer brincar com o jogo da vida, sem se deixar ser conduzido por ele. Mas não posso dizer isso porque eles são uma aberração racista e xenófoba que precisa ser combatida.
13- Mais uma sobre o Marcelo Dourado. No último BBB, você fez campanha contra, acusando ele de homofóbico, até de nazista, por suas tatuagens. É assim que você acha que deva ser a superação dos preconceitos, "eliminando" quem não tem a mesma visão do problema? O caminho não seria abrir diálogo com o Marcelo Dourado sobre isso, por exemplo?
Você me parece um tanto obcecado pela defesa do Marcelo Dourado... Por quê? Você se identifica com ele? Eu não tenho nada contra Marcelo Dourado, muito pelo contrário. Eu sequer me esbarrei pessoalmente com esse rapaz na vida. Não fiz críticas a ele por ele ser tatuado (até porque eu mesmo tenho tatuagens), apenas chamei a atenção para o fato de que não se pode sair tatuando símbolos pelo corpo sem, antes, atentar-se para o novo significado que esse símbolo possa ter ganhado ao longo da história. Ora, o pênis ereto era símbolo de fertilidade na cultura Ioruba e nem por isso um cara vai tatuar um pau na testa, no braço ou na bunda! Pode até tatuar, mas vai ter que agüentar as pessoas apontando para o pau tatuado e chamando-o de "viado"; não vai poder se ofender com as criticas, afinal, ele não está na cultura ioruba, mas na cultura ocidental judaico-cristã que deu novo sentido ao pênis ereto. Não sei por que você se refere a "eliminação" nesse caso do BBB10. Nada do que publiquei ou disse era pessoal. Não tenho nada contra a pessoa do Dourado, volto a dizer. Eu fiz uma análise das representações televisivas em jogo e seu impacto na mentalidade dos brasileiros. Ao escrever e publicar minha opinião, abri o diálogo com a sociedade. Tenho certeza que, diante de representações racistas da negritude e da criminalização da pobreza num programa de massa, você também se posicionaria.
14 - Qual avaliação você faz do governo do presidente Lula?
01 - Quem é Jean? Origem, estudos, caminhos a seguir…
Falar de mim mesmo é difícil, mas entendo que pedir para falar de mim é pedir pra falar de meu caráter, de como ele foi forjado; das minhas escolhas; trabalhos e daquilo que dá sentido à minha vida. Então vamos lá. Vou começar com um episódio que me marcou muito ao muito ainda ouvir seu eco em minha alma. Certa vez, aos seis anos de idade, eu fui comprar pão na venda e, chegando lá, na hora de fazer o pedido, eu fiz a concordância de nominal correta, "Por favor, eu quero seis pães". Havia alguns caras, homens feitos, bebendo na venda. Um deles, ouvindo a minha frase, disse, num tom de ameaça: "você é viado ou estudado?". Todos os outros riram. Era a primeira vez em que eu ouvi a palavra "viado". Não sabia o que ela significava, mas sabia pelo tom de ameaça do cara e pelo riso de escárnio dos outros, que eu não deveria ser aquilo.
A injúria contra os homossexuais – esse continuum que vai das primeiras ofensas verbais à violência real - provoca quase sempre estragos irreparáveis à subjetividade ou à alma de uma pessoa. Agora, Celso, imagine essa infância gay – sim é preciso falar de uma infância gay – combinada à pobreza extrema em que vivíamos na periferia de alagoinhas, em que sequer água e sanitário havia nas casas de aluguel em que morávamos?
Não bastasse a miséria, e talvez mesmo por conta dela, meu pai enfrentava problemas com alcoolismo e, por isso, não parava nos subempregos que, vez em quando, permita-lhe trazer comida pra casa. Minha mãe, semianalfabeta, trabalhava como lavadeira para não nos deixar morrer de fome. E, para ajudá-la nesta tarefa nobre, eu fui, aos dez anos de idade, para o mercado de trabalho informal. Comecei vendendo algodão-doce e folhinhas do sagrado coração de Jesus pelas ruas da cidade.
Trabalhava num turno e estudava em outro. Aos sábados e domingos, eu e meus irmãos nos dedicávamos às atividades do centro comunitário da baixa da candeia. Diante das necessidades, minha mãe queria que a gente abandonasse a escola para se dedicar mais ao trabalho: conseguir uma vaga numa oficina mecânica qualquer ou de cobrador de ônibus. Para ela, era importante que fôssemos honestos e respeitássemos o que era dos outros, mas para minha mãe não era tão importante que a gente estudasse, pois, na cabeça dela, dedicação a estudos era coisa de gente rica.
Acontece que eu sempre gostei de aprender e de ler. Sempre gostei da escola porque era lá que eu aprendia e lia. E para escola eu ia mesmo nos dias em que não havia absolutamente nada para comer lá em casa. E aos sábados e domingos passava horas na biblioteca da casa paroquial lendo livros. Livros que me deram valores humanistas e a preocupação com o outro, típicos do cristianismo – sim, porque se, por um lado, o cristianismo fundamentalista e sua ameaça ao estado laico e de direitos nos apavoram, por outro, é inegável que foi o cristianismo que nos trouxe essa idéia de que o que torna um homem virtuoso são os seus atos, ou seja, para o cristianismo, um ser humano é virtuoso quando age em favor do bem comum; livros que me levaram ao movimento pastoral da igreja católica – eu me engajei na pastoral da juventude estudantil e na pastoral da juventude do meio popular - e ao trabalho nas comunidades eclesiais de base. A família de meu pai sempre foi ligada ao candomblé, mas eu só vim me aproximar e me aprofundar nesta religião depois dos 20 anos, já homem feito.
Leitura e livros que me fizeram ver a televisão com outros olhos (televisão que só foi chegar à minha casa quando eu tinha 11 anos; antes minha mãe e eu assistíamos às novelas da janela do único vizinho que tinha TV no bairro). Livros que me fizeram escapar dos destinos imperfeitos aos quais ainda estão condenados os meninos e meninas dos bolsões de pobreza deste país.
Formei-me em informática no ensino médio, numa instituição de excelência voltada para alunos de escolas públicas do nordeste que estivessem acima da média 8,0: A Fundação José Carvalho; entrei no mercado formal de trabalho bem remunerado; nesse mesmo ano prestei vestibular para jornalismo na UFBA, onde me formei; trabalhei anos como jornalista e, depois de concluído o mestrado, passei a me dedicar mais ao ensino superior – sou professor de teoria da comunicação e de cultura brasileira. Deixei os anos de miséria para trás (não que eles ainda não me assombrem); fiz a tal mobilidade social sem contar com a ajuda financeira dos meus pais – que, ao contrário, dependiam de mim - nem com apadrinhamentos de qualquer tipo! Eu que poderia ter morrido de fome ou por falta de serviço público de saúde decente; que poderia ter sucumbido a uma bala de revólver da polícia ou dos bandidos ou à homofobia que reina nas comunidades. Transformei a minha vida e a de minha família para melhor. E poderia me contentar com isto e só olhar para frente!
Mas, e os que ficaram para trás? Aqueles que, abandonados pelo estado à própria sorte, não tiveram a força de vontade de resistir e sobreviver à miséria? E aqueles que ficariam para trás, que estariam fadados a morrer vitimas das guerras de quadrilhas ou nas mãos da polícia, como aconteceu a muitos dos meus colegas da baixa da candeia?
E aquelas crianças homossexuais que não sobreviveriam ao ambiente de hostilidade homofóbica? Como é possível viver contente se seus semelhantes ainda são vítimas das injustiças? A psicanálise nos ensina que todas as nossas escolhas são frutos das experiências de prazer e de desprazer na infância. A julgar pelas minhas escolhas, ela está certa. Como jornalista, em vez de me dedicar às frivolidades dos cadernos de cultura, dediquei-me ao jornalismo cidadão, ganhando três prêmios da ABI (Associação Baiana de Imprensa) e uma menção honrosa da ANDI (Agência Nacional dos Direitos da Infância) por matérias dedicadas à promoção dos direitos humanos, principalmente os direitos das crianças e dos adolescentes. E não me bastava publicar matérias! Eu queria colaborar com os movimentos sociais e a sociedade civil organizada, por isso, fui parceiro do GAPA (Grupo de Apoio e Prevenção à AIDS), do GGB (Grupo Gay da Bahia) e da organização de auxílio fraterno, onde desenvolvi um programa de educação pela mídia e para mídia, voltado para crianças em situação de risco social. Como professor da Universidade Jorge Amado, criei uma pós-graduação latu sensu em jornalismo e direitos humanos. E como pesquisador, tendo sido alguém que veio das camadas da população que só têm acesso à cultura de massa – seja por falta de recursos para consumir bens simbólicos como teatro, concertos de música, discos importados e literatura, seja pela falta de políticas públicas que lhes dêem acesso à alta cultura – interessei-me em investigar os significados que a cultura de massa produz no imaginário popular e em investigar as razões de a mesma ser alvo dos preconceitos de certa elite intelectual deste país – elite que embora reserve, para si, a chamada alta cultura, como forma de justificar seus outros privilégios, menospreza, diminui ou criminaliza a cultura dos pobres (o funk está aí para provar isso). E foi esse interesse que me levou ao BBB. Pode haver gente egoísta no mundo, mas eu não faço parte dela, Celso, de verdade! Ter uma vida confortável, relativamente segura e trabalhar, por meio da educação superior e do jornalismo, pelos direitos humanos, não me impediram de reconhecer que isto ainda é pouco; que eu posso fazer muito mais para melhorar a vida dos outros e que este muito mais passa necessariamente pela política. Daí, eu ter decidido me filiar ao PSOL – partido cujo programa mais se aproxima de meus ideais – e ter aceitado o convite de Heloísa Helena a me candidatar a deputado federal e a travar, caso eleito, uma luta que certamente será árdua em nome da justiça social, dos direitos humanos, da ética pública e das liberdades individuais.
02. O que você fez com aquele dinheiro todo que você ganhou no BBB?
Acho que isso não interessa a muita gente, mas, para não te de deixar sem resposta, eu posso te dizer que ajudei a muita gente e a mim mesmo em necessidades imediatas. Guardei um pouco para os momentos difíceis. E continuei vivendo de meu trabalho.
03. Jean Wyllys ficou conhecido por tornar pública sua homossexualidade. Quando se descobriu gay e quais os momentos mais críticos dessa aceitação?
Como a gente vive numa sociedade heteronormativa, ou seja, numa sociedade cuja maioria heterossexual definiu a heterossexualidade como norma, o processo de aceitação da homossexualidade por parte de um homossexual nunca está completo. Mesmo quando a gente faz a passagem da vergonha para o orgulho – o que alguns chamam de saída do armário ou de "se assumir" – mesmo assim, a vida coloca a gente em momentos críticos em que a gente tem de optar entre se aceitar e expressar orgulho ou se calar. A melhor expressão para dar conta desse processo de aceitação que nunca está completo é a inglesa "Comming out of the closet"; a gente nunca sai do armário por completo... Quanto ao momento exato da "descoberta", não dá para precisá-lo. Uma criança que é diferente por não se encaixar nos papéis de gênero definidos pela sociedade percebe sua própria diferença quando todos em volta jogam essa diferença em sua cara ou querem fazê-la se encaixar na norma. Veja o caso que te contei do cara que me chamou de "viado" quando eu tinha apenas seis anos! Todo esse constrangimento vai fazendo com que um gay cresça internalizando a homofobia social, de modo que ele não se aceite em sua diferença e busque se enquadrar no que é considerado normal. É algo parecido com o racismo internalizado de muitos negros: criados numa sociedade em que o poder e os modelos de beleza e sucesso são brancos, muitos negros passam a rejeitar sua negritude e a querer se tornar brancos. Posso dizer que minha família reagiu bem à minha homossexualidade se eu levar em conta o fato de que nasci numa família do interior da Bahia, portanto, com os valores morais e os preconceitos típicos de uma família nordestina, interiorana, católica e pobre. Minha mãe e meus irmãos não deixaram de me amar quando assumi minha orientação sexual, mas, é importante dizer que eu assumi quando já morava fora e era arrimo de família. Talvez se eu assumisse quando ainda morava na casa de minha mãe e não a ajudasse financeiramente nem a meus irmãos, a história fosse outra. Mas não posso viver de hipóteses. A verdade é que, quando assumi minha orientação no reality show, minha família, amigos, colegas e alunos já sabiam e me respeitavam e amavam mesmo assim. Antes de me tornar famoso em todo Brasil, eu já era uma referência, em minha família, de determinação, bom-senso, inteligência, discrição e sucesso. A fama não alterou a forma de minha família me ver. A gente não é deslumbrado.
04 - - Hoje estamos vivendo em uma sociedade mais "democrática" quanto às relações homoafetivas, no Brasil e no mundo? Porque isso está acontecendo?
Celso, as mudanças que existem entre ser gay há dez anos e ser gay hoje são frutos mais da luta dos grupos de homossexuais organizados e de gays que dão "a cara a tapa" e menos de uma mudança na sociedade. Se a sociedade mudou, mudou porque foi pressionada pelas ações desses grupos e pessoas. Ela não muda gratuitamente: ao contrário, seu movimento é sempre de se conservar como é e está. Há dez anos eu já era gay assumido e, logo, posso dizer que as conquistas, de lá para cá, não são muitas: em se tratando de política, há o crescimento das paradas do orgulho gay - com todos os efeitos colaterais que esse crescimento traz - e os projetos de lei que institui o casamento civil entre gays e criminaliza a homofobia; em se tratando de representação na mídia, há os personagens de novela e o fato de eu ter aparecido num reality show, para todo Brasil, como um homem homossexual inteligente e ético. É inegável que o movimento gay - aproveitando-se dos esforços do capitalismo para nos constituir como nicho de mercado (e o capitalismo só apresenta o mercado como solução para os conflitos sociais) - conquistou novas representações de homossexuais na tevê. Essas novas representações trouxeram mais visibilidade para a comunidade LGBT e, assim, levou as audiências a se acostumarem mais com a existência dela. Contudo, é igualmente inegável que as representações de homossexuais mais toleradas pelas audiências são aquelas em que gays, lésbicas e transexuais aparecem como objetos de piadas e situações cômicas ou aquelas em que eles aparecem travestidos de heterossexuais, ou seja, sem nada que evidencie sua diferença. Nessas representações, com raríssimas exceções, os homossexuais aparecem como seres assexuados – não desejam, não transam, não amam. Sendo assim, as audiências toleram que alguém diga que é gay, mas, não quer vê-lo sendo gay. Daí não poder se afirmar categoricamente que vivemos numa sociedade mais tolerante e receptiva às relações homoafetivas. A prova disso é que o projeto de lei que institui o casamento civil entre homossexuais se encontra parado no Congresso Nacional desde 1995.
05 - Mas não acontecem paradas gays em quase todo Brasil? Isso não é prova de aceitação?
Isso é prova de que o movimento se organizou e conquistou seu espaço contra tudo e todos. As paradas são eventos que celebram o orgulho de ser LGBT, ainda que em alguns lugares, como resultado de negociação política para que sejam liberadas pelas autoridades locais, elas aconteçam com o nome de "parada da diversidade". As paradas são uma grande conquista política. Elas conferem existência a uma cultura que não conta com muitos meios de expressão pública. Elas não resolvem o problema da discriminação cotidiana de que são vítimas os gays e lésbicas e, muitas vezes, as paradas até servem para reforçar essa discriminação na medida em que a mídia heterossexual só dá destaque para seus excessos. Porém, como já disse, elas são meios de expressão pública da cultura LGBT – e isso é muito se pensarmos que há um esforço da mídia heterossexual e dos políticos conservadores em silenciar a cultura LGBT, em deixá-la invisível. Por isso, é equivocado aquele organizador de parada que prepara o evento pensando nas famílias que vão assistir ao desfile, acompanhadas de suas crianças e bichos de estimação. As paradas têm de ser feitas por e para as lésbicas, transexuais e gays. Os heterossexuais são apenas platéia.
06. - O que você acha que vai acontecer no futuro, em uma sociedade que aceita relações homoafetivas, "casamento gay", adoção de crianças por casais gays?Como o Brasil, por exemplo, pode se adaptar a isso?
Não faço futurologia. Mas digo que, se a sociedade brasileira estender a cidadania plena aos homossexuais e/ou se ela reparar os danos sociais e psíquicos que causou aos afrodescendentes, ela será uma sociedade de fato mais democrática e mais justa. O Brasil não só pode como deve construir essa sociedade. Foi pensando em participar dessa construção que aceitei vir candidadato.
07 - Outro dia vi em um programa de televisão que um travesti em São Paulo pode ganhar entre 4.500 e 6.000 reais e que as relações são em muitos dos casos são com homens, casados e que adotam a posição passiva na hora da transa. O que você acha disso?
Não sei se esses ganhos correspondem à realidade. Com certeza não correspondem à realidade da maioria das travestis e transexuais que vivem da prostituição. Quando eu era aluno da graduação, acompanhei o antropólogo Don Kuhlick em sua etnografia dos espaços de prostituição de travestis em Salvador. Convivi e conversei com muitas delas em reuniões do GGB. Depois, como repórter, fiz muitas matérias explorando o universo das travestis e a prostituição viril. Logo, posso te afirmar que a vida de uma travesti que vive só da prostituição não é fácil. A maioria se prostitui porque este é o último e único meio de sobrevivência que lhe resta. Se elas não podem ter vida diurna (você costuma ver travestis durante o dia, circulando normalmente pelas ruas?) imagine trabalhar regularmente em lojas, escolas ou empresas! Na noite, elas estão expostas a – e são alvo de - toda sorte de violência. Como não contam com proteção legal – ao contrário, costumam ser humilhadas e violentadas nas delegacias e postos de polícia aos quais recorrem – elas se protegem por meio da violência também, roubando ou ferindo seus clientes quando estes, depois que gozam, querem sair do programa sem pagar. É verdade que a maioria dos clientes das travestis é casada e quer ser passiva na relação, quer dar o cu, mas isso não significa que eles sejam homossexuais ou gay. O ânus é a uma zona erógena. Todo homem sente prazer quando é tocado no ânus. Mas ele não admite isso nem explora essa sua zona erógena com namoradas e esposas porque existe a mentalidade de que a posição passiva é uma posição menor porque feminina; a mentalidade de que quem se submete a ocupar essa posição passiva, feminina, não é homem, não é digno de ser homem, é tão inferior quanto a mulher, é viado. Ora, por conta dessa mentalidade, muitos homens deixam de explorar sua zona erógena com namoradas e esposas e vão atrás de travestis. No fundo, o que eles estão buscando não é outro homem, mas uma mulher com um pau que explore o prazer que ele sente no ânus.
08. Vamos falar mais de BBB. O que você acha que o Big Brother Brasil representa hoje para a população brasileira? Acha que é "só um jogo" como dizem ou este show carrega mais coisas por determinar às vezes a opinião do público sobre algumas questões, como a homofobia na edição passada?
Quando os realities shows começaram a fazer sucesso, eu, como comunicólogo, interessei-me por eles, ao ponto de abandonar a minha pesquisa sobre narrativas de presidiários do Carandiru – que fora objeto de estudos no mestrado e seria no doutorado – para montar um projeto de pesquisa sobre este novo gênero de entretenimento televisivo que estava fazendo a cabeça dos brasileiros. Eu queria ser um dos primeiros acadêmicos de comunicação no Brasil a estudar o BBB. E foi este querer que me levou a me inscrever no programa. Se eu pedisse à Globo para entrar no programa apenas para estudá-lo, ela me negaria; por isso, fiz a inscrição como mais um candidato. A telenovela um dia já foi desprezada pelos intelectuais e hoje é objeto de estudos multidisciplinares por ter se tornado um fórum de debates sobre as questões nacionais e formadora de mentalidades. O mesmo vai acontecer com os realities shows. E eu queria ser um dos primeiros a investigar quais os impactos deles no imaginário do povo brasileiro, afinal, a gente não pode considerar um mero equívoco quando pessoas não sabem em quem votaram nas últimas eleições, mas gastam seu tempo e dinheiro para votar num participante de reality show. Depois que eu participei do BBB, passei a gostar ainda mais desse tipo de entretenimento televisivo. Os realities shows vieram para ficar e causaram enorme impacto na programação televisiva no mundo inteiro. Ter sido selecionado para participar do programa me permitiu fazer uma etnografia e, assim, compreender melhor a produção de um programa que é campeão de audiência e, por isso, mobiliza e coloniza o imaginário de milhões de brasileiros. A última edição, por exemplo, serviu para mostrar à maioria dos brasileiros o que é a homofobia e suas múltiplas faces e manifestações. Tenho orgulho de ter conseguido fazer isso bem e, sem que eu tivesse planejado, de ter me tornado um marco na história do programa – e, talvez, na história da tevê brasileira – e de ter dado mais combustível à política homossexual e me tornado um escritor popular. O que a imprensa de celebridade não compreende é que não é o BBB que faz os participantes; são os participantes – suas histórias de vida e conflitos – que fazem o BBB. Os realities shows devem seu sucesso menos aos seus diretores e equipes de produção e mais, muito mais, aos seus participantes. Sem as histórias e vida dos participantes, sem suas qualidades e defeitos, os realities shows não seriam nada.
09- Você acha que ganhou o BBB porque era gay? Se não foi por isso, porque foi?
A escolha do vencedor, por parte do público, depende da conjugação de um contexto interno - ou seja, da trama dos conflitos que surgem da convivência entre os participantes – com um contexto externo, que corresponde à realidade sócio-cultural que o país está vivendo e dos fatos que a compõem. É na interação entre esses dois contextos que emerge a identificação ou identificações da maioria com aquele participante que ela faz vencedor. Então por que eu venci? Primeiro porque a trama nascida dos conflitos em que me envolvi na casa evocava o poderoso mito de Davi e Golias: o gigante da casa exortou os outros participantes a me eliminar a qualquer custo, mesmo eu sendo o elo mais fraco da corrente; a maioria não tolera a representação da injustiça. Segundo porque o fato de eu ter assumido publicamente minha homossexualidade fez com que a maioria me identificasse com um homem corajoso e honesto, mesmo ela reprovando intimamente a homossexualidade. Terceiro porque todas as minhas outras qualidades ficaram maiores que a minha orientação (era como se as pessoas desculpassem o fato de eu ser gay por ser, ao mesmo tempo, honesto, íntegro, bom e inteligente); porque eu apenas disse que era gay, não vivi minha sexualidade. Quarto porque o país atravessava uma crise ética na política; o povo demandava por modelos de ética e decência. Quinto porque, além disso, eu possibilitava outras identificações: alagoinhense, baiano, nordestino, povo de santo, professor universitário e intelectual com uma história de vida comum à maioria dos brasileiros.
10. O que ganhar o BBB te trouxe de bom? Isso te agregou fama real, ou hoje, você ainda vive daquela fama momentânea?
Entre as razões que me levaram a participar do programa, ganhar o prêmio em dinheiro era a que menos contava; virar "celebridade" não estava entre elas, definitivamente. Além de conhecer um reality show por dentro – interesse de um intelectual que pesquisa comunicação de massa e dá aulas para alunos dos cursos superiores de Comunicação Social – eu queria abrir minha carreira de escritor para o resto do país. Claro que a participação por si só não garantiria isso. Participar do BBB só faz de você um participante do BBB. O que faz de você algo mais que um participante é a formação, o trabalho e o talento. E eu estava (e estou) certo de meu talento, de minha formação e de meu trabalho, por isso, decidi participar. E, por isso, soube dizer não aos apelos da mídia para a exposição sem propósitos. Não gosto da fama em si, a fama pela fama. Tenho pavor dela e me recuso a alimentá-la: não faço presença vip, só vou a festas e shows que eu possa pagar e só aceito convites se os ventos forem do meu interesse e só dou entrevista e participo de programa de tv se eu tiver o que dizer ou se o tema tem a ver comigo. Como todo profissional, eu quero sucesso. E sucesso não é nada mais que fazer o que você gosta, viver disso e um número maior de pessoas prestar atenção. Nesse sentido, todos querem sucesso: o médico, o pintor, o artesão, o escritor, a cabeleireira, o MV Bill e você também, Celso.
11. Como você avalia a vida acadêmica de antes e a de agora? O que você espera nesse âmbito para o futuro?
Eu nunca me imaginei longe da vida acadêmica. Porque eu sempre tive um pé dentro dela e outro fora mesmo antes de ser "famoso". Fiz pesquisa e dei aulas na universidade ao mesmo tempo em que atuava como jornalista engajado e como escritor. Esse trânsito é salutar. Eu sou um intelectual orgânico naquele sentido descrito por Gramsci. Depois de ficar famoso num programa de massa, eu até esperava enfrentar mais preconceito por parte da academia carioca, mas isso não aconteceu. Um ou outro professor torce o nariz por inveja ou rancor, mas a maioria me recebeu de braços abertos e houve até instituições me disputando quando decidi deixar temporariamente a tevê para voltar à academia.
12. Li uma opinião sua sobre a vitória do Dourado no último BBB, você dizia que as pessoas queriam estabelecer uma ordem moral fascista. Você não acha que ao contrário de querer ordem o público na verdade quis brincar com jogo do BBB, sem se deixar ser conduzido pelo jogo? Pergunto isso por causa da febre no Twitter. As pessoas passaram a defender o Dourado como campeão mais como um deboche do que como um apoio a quem ele era de fato?
Não queria voltar a esse assunto, para mim, ele está esgotado. Mas discordo de você quanto às razões que levaram as pessoas a defender o Marcelo Dourado. Contrariando Descartes, Freud nos ensinou que a gente existe pelo que não pensa, ou seja, pelo que está inconsciente em nós. Havia muito ódio inconsciente – e, em alguns casos, mais que consciente – no deboche com que a defesa ao vencedor e o ataque aos homossexuais eram feitos no Twitter e demais espaços da internet. Seguindo sua argumentação, eu poderia dizer, então, que os sites, blogs e perfis que pregam ódio a negros e a nordestinos na internet não passam de deboche de quem quer brincar com o jogo da vida, sem se deixar ser conduzido por ele. Mas não posso dizer isso porque eles são uma aberração racista e xenófoba que precisa ser combatida.
13- Mais uma sobre o Marcelo Dourado. No último BBB, você fez campanha contra, acusando ele de homofóbico, até de nazista, por suas tatuagens. É assim que você acha que deva ser a superação dos preconceitos, "eliminando" quem não tem a mesma visão do problema? O caminho não seria abrir diálogo com o Marcelo Dourado sobre isso, por exemplo?
Você me parece um tanto obcecado pela defesa do Marcelo Dourado... Por quê? Você se identifica com ele? Eu não tenho nada contra Marcelo Dourado, muito pelo contrário. Eu sequer me esbarrei pessoalmente com esse rapaz na vida. Não fiz críticas a ele por ele ser tatuado (até porque eu mesmo tenho tatuagens), apenas chamei a atenção para o fato de que não se pode sair tatuando símbolos pelo corpo sem, antes, atentar-se para o novo significado que esse símbolo possa ter ganhado ao longo da história. Ora, o pênis ereto era símbolo de fertilidade na cultura Ioruba e nem por isso um cara vai tatuar um pau na testa, no braço ou na bunda! Pode até tatuar, mas vai ter que agüentar as pessoas apontando para o pau tatuado e chamando-o de "viado"; não vai poder se ofender com as criticas, afinal, ele não está na cultura ioruba, mas na cultura ocidental judaico-cristã que deu novo sentido ao pênis ereto. Não sei por que você se refere a "eliminação" nesse caso do BBB10. Nada do que publiquei ou disse era pessoal. Não tenho nada contra a pessoa do Dourado, volto a dizer. Eu fiz uma análise das representações televisivas em jogo e seu impacto na mentalidade dos brasileiros. Ao escrever e publicar minha opinião, abri o diálogo com a sociedade. Tenho certeza que, diante de representações racistas da negritude e da criminalização da pobreza num programa de massa, você também se posicionaria.
14 - Qual avaliação você faz do governo do presidente Lula?
Em relação a todos os governos anteriores, o governo avançou positivamente em todos os aspectos, mas fez concessões e alianças inimagináveis com os setores mais conservadores e reacionários do país, o que lhe impediu de fazer a transformação social prometida. Lula construiu o hoje. O PSOL, com Plínio de Arruda Sampaio, pode construir o amanhã.
15. O que você acha das candidaturas da ministra Dilma Rousseff [Casa Civil] e do governador [de São Paulo] José Serra? E da Marina Silva [PV], gostou da iniciativa que ela teve em concorrer?
Quanto mais opções o povo brasileiro tiver, mais democrática será a corrida presidencial. Mas é preciso que a mídia leve em conta que a presidência não está sendo disputada apenas pelos três candidatos. A mídia ignora solenemente o Plínio de Arruda Sampaio como outra opção, excelente opção, diga-se de passagem! Tenho apreço pela história de vida da Marina Silva no que diz respeito à defesa do meio ambiente, mas não gosto de sua postura em relação à cidadania plena dos homossexuais; e vejo que sua candidatura só serve para fortalecer o Serra, que, dos três, é o que tenho menor apreço. A Dilma acabou de fazer concessões aos evangélicos fundamentalistas e acho que isso pode lhe render o voto dos cristãos evangélicos, mas compromete suas promessas de defender o estado de direitos e os direitos fundamentais de todos, inclusive os dos homossexuais e os do povo de santo.
16. Recentemente na Argentina foi aprovada a lei que regulamenta o casamento gay. Em sua opinião, o que ainda impede o Brasil de avançar nesse debate? Devemos seguir o mesmo caminho?
Na prática, o que impede que a lei seja aprovada é o fato de a direita conservadora e reacionária ser maioria no Congresso Nacional. E esta bancada de direita – de guardiães da família tradicional e contrários à extensão da cidadania plena a homossexuais e mulheres – é composta majoritariamente por cristãos neopentecostais fundamentalistas, eleitos pelas igrejas evangélicas que vêm se proliferando nas periferias das grandes cidades e do interior – periferias cujas populações estão abandonadas pelos governos e, por isso, carentes de políticas públicas de saúde, geração de emprego e principalmente de educação que lhes fortaleçam contra ações desses vendilhões do templo que querem transformar o Brasil numa teocracia, ferindo os princípios republicanos e democráticos. O que impede de a lei ser aprovada é essa bancada. Ela vem atravancando outras leis importantes para os LGBTs. Além disso, os meios de comunicação de massa são cúmplices da sustentação de uma homofobia social que joga a opinião pública contra os homossexuais organizados na busca de cidadania plena. É isso.
17. Por que você decidiu ser candidato a deputado federal?
A idéia de me candidatar partiu da Heloísa Helena. Ela me fez o convite. Eu já era filiado ao PSOL, mas não pensava em me candidatar. Aí, um dia, a gente se encontrou em Salvador e, nesta ocasião, durante uma conversa, a Heloísa me fez a proposta, argumentando que a política - e, aqui, eu me refiro à política no sentido do senso comum - precisa de novas caras e de candidatos que sejam cidadãos honestos e comprometidos com trabalhos em favor da justiça social e das liberdades. A princípio, eu disse não. Mas, depois, pensando melhor nos argumentos dela, eu reconheci que ela tem razão: se os políticos que estão aí não nos representam nem às nossas causas, então, que sejamos nós os políticos! Se eu posso estender os resultados de meu trabalho em prol dos Direitos Humanos a mais pessoas; se a vida me deu o potencial e a chance de fazer isto; se a vida me trouxe a esta posição; então, que eu o faça! Pensando assim, aceitei o convite e agora sou candidato a deputado federal pelo PSOL e pelo Rio de Janeiro. Meu slogan é "Um novo candidato para uma nova política". Precisamos mesmo de uma nova política, voltada verdadeiramente para o bem-estar coletivo, sem excluir, deste, as minorias.
18. Por que pelo Rio e não pela Bahia. Você não acha que o povo de sua terra vai se sentir traído?
Sou deputado pelo Rio porque moro e trabalho aqui há seis anos. O povo de minha terra não vai se sentir traído porque ele será contemplado pelo meu mandato tanto quanto os fluminenses caso eu seja eleito, pois, um deputado federal legisla em nome do povo brasileiro como um todo. Decidi aceitar o convite a me candidatar a deputado federal exatamente porque as causas em que trabalho – a dos direitos humanos e liberdades - são de âmbito nacional. Não fazia sentido me candidatar a uma vaga na Alerj. Não estou em busca de emprego. Emprego eu tenho! Estou em busca de defender causas que acho nobres e que podem trazer bem-estar a mais pessoas.
19. Você acredita que sua influência pública - conquistada pela visibilidade que o BBB deu - vai ajudá-lo em sua campanha? E por que o PSOL? Você sofreu algum tipo de resistência devido a sua candidatura no partido?
A minha influência pública deve-se ao fato de eu ser um homem de opinião e com formação intelectual sólida e incontestável; deve-se ao fato de eu ser um "intelectual orgânico", para usar a expressão de Gramsci; um intelectual que se envolve com os movimentos sociais e com lutas concretas; alguém que não se limita à academia nem à sala de aula; um estudioso da comunicação de massa que não teve medo de se misturar a ela para transformá-la. Tenho orgulho de ter feito o BBB, mas o BBB não me deu prestígio. O BBB me deu visibilidade e esta visibilidade vai me ajudar na campanha, é óbvio, mas se eu não fosse quem eu sou; se eu não tivesse prestígio adquirido de uma história de vida que é maior - muito maior – do que o que apareceu no BBB, esta visibilidade de nada valeria. E eu escolhi me filiar ao PSOL porque eu sei que se trata de um partido criterioso, que não aceita arrivistas e aventureiros em seus quadros. Sei que o PSOL não me aceitaria se eu fosse apenas uma "celebridade" querendo se dar bem. Ele me aceitou porque reconheceu a minha história de vida e minha afinidade ideológica com ele, o que não quer dizer que eu aprove toda cartilha do PSOL. A minha entrada no partido serve também para abri-lo para outras questões importantes da política contemporânea. Se eu quisesse ser tratado como um famoso querendo me dar bem, eu teria aceito o convite do DEM nas últimas eleições. Seria eleito com mais facilidade e não teria que ralar o tanto que estou ralando para me eleger. Mas não aceitei porque sou honesto e tenho convicções.
20. Resuma suas propostas como candidato em poucas palavras.
Defesa da ética pública; do meio ambiente; dos direitos humanos e das liberdades individuais, o que inclui os direitos LGBTs; de uma educação cidadã e para uma cultura sustentável; e do estado laico e democrático de direitos. Defender os direitos fundamentais é defender o direito de todos à alimentação, educação, saúde e trabalho, seja por meio de projetos de lei seja no papel de fiscal do executivo na aplicação do dinheiro do povo. Ufa!
Fonte: Porradão
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