Foto: Jesus Luz, por Roberto Teixeira, Photo Rio News
A gente vive dizendo que não tem mais idade para fazer determinadas coisas. Felizmente, na maioria das vezes não passa de força de expressão. A gente diz que não faz, mas dali a pouquinho está fazendo. O que talvez seja bom, por demonstrar que a idade, no fundo, não é empecilho para algumas das nossas ações. Eu digo – e nestes casos levo a sério – que não tenho mais idade para apenas duas coisas: usar drogas e pegar fila em casa noturna. Nem idade e nem paciência. A experiência e os anos me ensinaram que no dia seguinte a gente costuma se arrepender das duas coisas – então as evito com imenso prazer.
Hoje, ao ler os jornais, descobri uma terceira coisa para qual eu não tenho – ou não teria – mais idade. Se eu trabalhasse em alguma redação de jornal e o editor me mandasse correr atrás do modelo Jesus Luz na São Paulo Fashion Week, é muito provável que eu, ainda que estivesse atolado em dívidas, chamasse o editor num canto para perguntar o que eu tinha feito para merecer tamanho mico profissional. Com todo respeito aos meus colegas que cobrem moda, eu já acho um castigo passar uma semana no pavilhão da Bienal tentando encontrar alguma qualidade e ousadia naquelas roupinhas mequetrefes que eles chamam de tendência. Confesso que não entendo de moda e, ainda que tivesse dinheiro para torrar nas vitrines, não compraria nada do que eu vejo nestes desfiles. Mais do que apontar caminhos, eu sempre acho que estes desfiles funcionam apenas para o galã da novela das oito exibir seus músculos diante de moçoilas e bibinhas embasbacadas com tudo – menos com as roupas.
Mas até aí, tudo bem. Todo trabalho é honesto e merece respeito. Agora, ter de correr atrás do Jesus Luz pra cima e pra baixo, como se a celebridade fosse ele e não a cantora que ele namora, é dar atestado de que nossa imprensa é uma das mais caipiras do mundo. No fundo, eu admiro o Jesus Luz, justamente porque ele não dá declaração alguma. Os jornalistas correm atrás dele e ele corre dos jornalistas, pois deve saber que não tem muito mesmo o que dizer. Dizem que como DJ ele é bem fraquinho e, como modelo, não parece ser muito melhor. Seu grande feito – e ele deve ter isso muito claro – é dividir o colchão com a cantora mais famosa do planeta. Sendo assim, falar sobre o quê? Eu acho que ele tem de continuar fugindo mesmo e rindo muito de quem corre atrás dele.
O que me deixa mais intrigado é que, ao ler os textos dos coleguinhas que passaram um dia todo na cola do Jesus, a gente percebe que houve um grande prazer nesta tarefa. É como se todos eles encontrassem uma certa nobreza e muito frisson em seguir os passos do moço. Quando eu era repórter, passei dias e noites correndo atrás de gente como o Michael Jackson, a Madonna, o Mick Jagger e o Bono durante suas turnês por São Paulo. E confesso que fazia isso com o maior prazer do mundo, porque se tratava de gente talentosa, carismática e, apreciem ou não, detentora de uma obra na maioria das vezes genial. Correr atrás do Jesus Luz, agora, só demonstra que a gente anda muito mal de ídolos e de celebridades, ainda que instantâneas. Quando eu estudava catecismo, os padres viviam falando que Jesus voltaria no começo do século 21. Nossa imprensa acreditou nisso.
Fonte: Só No Blog
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